20131110

5 poemas do SATURAÇÃO DE SATURNO


Logo mais, às 19hs, começa o CHAT com Ana Rüsche
no www.literatura.ning.com

te deixo aqui 5 poemas do Saturação de Saturno
abrindo o terreiro



Saturação de Saturno

ou a insídia costumeira de assolar poemas parados


rondó de abertura

um molar de saturno, várzea   
melódica entupindo as tripas, amargo
morno da antemanhã – sucessivo
lento, molar e música de despir,
os casacos das feridas, início

terno dos defeitos, o casto
caimento sobre o timo, imolado
um molar

que sova tua sorte para calos dizíveis:
as cores do chumbo – molar
estivador, forja de gatunos
atraentes à pedra no bolso esquerdo
enfiada ao fundo, um molar

de saturno – criança
te prometem os teus vinte e nove
danos





saturação de saturno II

saturnina, ontem
mesmo antes de se despir atentou a contar
os roxos encapsulados nas dobras
atentou: era bom
que toda semana
pontualmente alguém
toque seu corpo

não porque haverá remanescente um desejo ferino luciferino ou 
conluio de carnaval
é bom saber que a mulher vem com malinha e analgésicos e 
escusa
no quarto andar arruma a vela para que algo de seu corpo se esquive dela
apalpa os mililitros do vasto e como quase sempre se faz assim
adormecida: é o melhor da vida
organizar o sono para vir junto com a mulher de malinhas

depois que acaba é que por ter sido nua naquela uma hora 
cronometrada (garanto que a mulher de malinhas não vai a ela 
simplesmente por ter consideração ou coisa de carnaval consigo) 
levanta-se e agita o espelho a começar 
a contagem dos espetos negros que porventura 
tenham-se acoplado ao corpo imagina 
esses serões quase sempre começam adentro
e aos poucos vão subindo arfando a pele até a hora mágica
chamada tabu obediência chamada o anjo da casa

o toque da mulher de malinhas e o sono impressionam a tempo de 
olhar o espelho (é claro que disso se tem medo) 
por isso novamente se paga a mulher para que tudo 
pareça & pereça mais natural e oxigenado: todo o puro

oh, seria estranho em outra hora
deitar-se a vasculhar os buracos encarquilhados ou então a dobradura 
volumosa das costelas ainda o debaixo do olho ou os caroços 
de brincar que dão nos seios para que a gente esprema não sem 
dor

seria estranho pedir ao homem após se deleitar licença
que agora que tua lucubração já depositou aquilo de mau cheiro
licença preciso ir às tinas verificar se nenhuma (verruga) pousou 
no adereço seria estranho mais ainda dizendo assim tu isso tu aquilo
o homem certamente se assustaria e ainda que convivido consigo nas 
últimas centenas de ano o homem certamente me bateria

e como ela não aceitasse apanhar sozinha é certo que desceria à rua
e como estivesse nua e apupada pelo como sempre deleitoso
cheiro daquele que agora força o nada certamente o oco se instalaria 
oco e nós
nós seríamos invisíveis

(amor) é o truque mais hediondo
apelidaram de culto, cultura, o mau cheiro e a invisibilidade
certamente ele homem humano só e assustado então marido
correria para outro planeta laminar
que desse suporte ao meu desaparecimento
e aderisse como um malho que se dá em crianças irritadas & animais 
indefesos

por essas e outras (sabe das meninas que fizeram ficha às fogueiras?)
a melhor coisa que há é a hora marcada com a mulher de malinhas




lady octopus
  
é uma carta: navega com meras senhas
uma loucura inclinada ao teatro
um ouriço na cintura túnica encravada
a sair mui talentosa o cúmulo de um cós
lilás discorrendo vísceras dentro da ó
nesga
por onde desembocar cutelos de homem

é uma imagem: ousa o espelho
investida invertebrada apenas como se
espelho com métrica embutida: o anjo da casa
(já se disse, ritornelo, água amarga)

é um porta-papel e carnuda rês
espiral de um talo rubro cosendo o roer
da nuca em que colorir os lábios
quiçá nunca gemer apenas dar-se ares
a scherzo esquadrinhado & ripar
da descuidosa maneira de viver
para que saia: um espelho
civilizado apenas contra
vertido e desdobrável: os tentáculos da casa



sete suítes para educação sentimental III

sei que tuas questões te mastigam: chegamos aonde a que confins
talvez na noite atos camuflados: a madeira de tua casa
demolida por outra casa talvez o tempo: vingue
as escolhas e esta solidão talvez solidão queira mais que uma apenas: mulher
ao teu lado sem qualquer pé que fira ao teu lado para: adormecer
a jovem que fui a teu lado para com ciúme: sazonar
o curso de tudo até a morte sinto-me pronta com mãos desde: sempre
menos agitadas e corpo: menos
turbulento sinto que cada tarde te acorda para uma outra: vaga
e não te mostra o rosto mas: seduz
ao caminho de coxas um caminho de réus e entrudo que seja: novo
e como novo: apaixonadamente
falso: talvez eu te tenha que deixar
para sobreviver para sobreviver em ti talvez eu tenha que guardar: a faca
e não ousar: mito
como no mito seguir adiante e não olhar para trás aquela: imagem
caída sobre o mastro só memória da trama das lesões: sim
mas de crueza exasperada: lúcida
amor, amor, enquanto tivermos vinho: sem mais
vácuos e sinas que te alimentem de distância e mau: pressentimento 




a saga dos poemas insatisfeitos V

o ciclo ameaça assim:
uma mulher pesada (mas)
(fresca) adormecendo seus
Vícios
começa e acalma
Vênus
como uma farsa
não fosse tão terrível farsa

advertências, ademais –
quando soasse o cheiro
de uma história a mais
para narrar
em trégua:

o teatro – ela diz
e o álcool – dão conta

de todo este pacote adulterado





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e ainda: leitura de um poema, aqui, autorretrato como consequência

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