20120708

casa do sol, dia 2

sábado longuíssimo, começando com coalhada e mel
o pátio bem ensolarado, de manhã os cachorros dormem, a casa toda dorme
porque há coisas na noite os mantêm acesos
escrevi, ritmo solto, as três primeiras páginas da peça AGONIA FEBRE-FULGOR
uma expressão tirada de Kadosh, da Hilda
o ambiente monástico e ao mesmo tempo comunitário abrem à concentração de um jeito único
todo tempo sem mesura, o dia foi longuíssimo
li o Nietzsche escrevendo ditirambos e assinando Dionysos, casamento
perfeito com a Hilda
à tarde, fui ao supermercado com a Olga, e depois comecei a cozinhar, junto com Lucas
os preparativos do clássico "amatriciana"
Lucas fez delicioso mousse de maracujá
e recebemos visitas na casa, amigos de Jurandy e Olga
Bia nos trouxe flores para comermos, "proteína pura, puro raio de sol", eram azedinhas e vermelhas
na cozinha, alma quente estendida das conversas e das horas boas
todos na mesa, leves, falantes
Jurandy contou que a Hilda adorava miojo, que ficou louca quando experimentou
também soube que na porta de entrada, quando chegavam os visitantes, ela via-lhes o mapa astral,
filtrava já ali similitudes
fotografei muito o S. Francisco que nos recebe na porta dianteira, é devagar chegar perto de cada relicário, de cada cotidiano guardado nas dobras da casa
jantamos, apimentados, e me recolhi
esta noite, diferente da anterior, permaneci em semi-vigília
ouvindo-a dentro e ao redor da casa
os gemidos dos cães, das portas de madeira, e a andança dos gambás no forro do telhado
como se jogassem boliche ou vivessem em susto, em debandadas loucas de lá pra cá
rápidos, bem no meio do silêncio, num espaço que aqui há
entre a terra e o devaneio -------------
estive de repente em alguns instantes no chão íntimo da infância em Santa Fé
as lajotas do piso são as mesmas, a casa de Santa Fé já teve paredes cor de cereja clara
o pio dos pombos e o jeito com que o ventro atravessa
me mudaram para lá bem aqui, esse déjà-vu da larga convivência ----------------------
acordei, tomei meu banho, no banheiro que era de Hilda, e incrivelmente
após chuva noite adentro, o sol forte é certo, e no vento
faço um café, lenta, vagarosa, entrando mais uma vez
na casa







Nenhum comentário: